Educação domiciliar
- Laís
- 16 de fev. de 2018
- 5 min de leitura

Quero contar aqui um pouco de como tomei conhecimento e me interessei pela educação domiciliar (ED) e como tem sido o processo de construção desse estilo de vida para mim e para meus filhos. Uma das primeiras (e muitas) dicas que recebi quando comecei a pensar nessa modalidade de educação, é que devemos antes de mais nada pensar, desenvolver e anotar nossas motivações. Ter de forma bem clara o que primeiro nos levou a encarar esse desafio e assumir essa responsabilidade, para que ao longo do tempo quando surgirem as dúvidas e inseguranças, possamos nos voltar para essas motivações e reencontrar o propósito.
É importante dizer, antes de mais nada, que por ser algo novo aqui no Brasil, a grande maioria dos pais que tem praticado a Educação Domiciliar (na modalidade que for) estão ainda engatinhando no processo, evidentemente alguns já estão muito adiantados e servem de preciosa inspiração. No entanto, o ED não deixa de ser algo novo a ser desbravado. Não há nada mastigado... temos que ter a disposição interna de realmente correr atrás, gastar algumas horas em pesquisas e estudos como falarei mais adiante.
Minha experiência
Tive contato com o assunto em 2014 quando meu filho Daniel tinha então de 5 para 6 anos, amigos muito queridos do meio conservador começaram a compartilhar conteúdos sobre o assunto e prontamente me chamou a atenção. Daniel desde o início da vida escolar apresentou muitas dificuldades e desafios, e àquela altura ainda não havia solidificado sua alfabetização. Esse era para mim motivo de enorme preocupação e angústia, no entanto eu acabava confiando a tarefa unicamente à escola e assumia para mim apenas a parte que eles delegavam, geralmente as lições de casa e alguma atividade que eles propunham. Quando comecei a ler sobre ED vi que eu poderia fazer mais do que ser somente uma expectadora que assiste passivamente aos outros ensinando minha criança, pode parecer algo simplório essa conclusão a que cheguei, mas esse processo permeia o meu próprio processo interior de maturidade pessoal e na vida materna, do qual pretendo em algum momento contar com mais detalhes aqui no blog. Nos temos a instituição escolar muito fortemente arraigada em nosso ser, e muitas vezes é difícil vislumbrar que há outras possibilidades e caminhos, a isso chamamos de descolarização e é um processo muito particular para cada um.
Voltando a 2014, eu tomei conhecimento de um curso que estava com inscrições abertas chamado Ensine seu filho a ler, criado por um professor chamado Carlos Nadalim do Blog Como educar seus filhos. Eu senti que aquele curso era voltado exatamente para mim e resolvi ingressar na segunda turma. O curso de lá pra cá já passou por melhorias e reformatação e é um curso muito rico, repleto de dicas e orientações... um verdadeiro caminho das pedras para nos iniciar nesse universo de educação infantil especialmente para pais leigos que nunca cursaram pedagogia e não tem ideia de como ensinar uma criança a ler e escrever e muito menos entendem de métodos pedagógicos e alfabetizadores. Esse curso que fiz era o de pré-alfabetização, que prepara as bases para que a criança aprenda a ler e escrever de forma verdadeira, adquirindo a capacidade de compreender REALMENTE o que um texto que dizer. Ou seja, é uma forma de ensinar visando não permitir que a criança seja um futuro analfabeto funcional que embora saiba ler, pouco ou nada entende do que foi lido. E por mais triste que possa ser, é o que vemos em grande parte sendo reproduzido mesmo em salas de aula. O objetivo não é apenas ser alfabetizado, mas ser alfabetizado com excelência!
Passei a aplicar o que ia aprendendo do curso com o Daniel que ofereceu uma certa resistência no começo, mas foi muito rápido observar os avanços que ele foi adquirindo... com esse avanço ele foi ganhando mais confiança e eu também. Por fim, posso dizer com orgulho que eu alfabetizei meu filho que apresentava enormes dificuldades e não foi um bicho de sete cabeças. Posteriormente retirei ele da escola e como na época eu tinha receio de ser processada pela decisão, coloquei ele numa escola pública e mandava raramente ele pra aula. Hoje Daniel já não frequenta mais a escola e temos e vamos a cada dia descobrindo caminhos e rumos dentro desse universo. Já com a Ananda de 1a5m a minha intenção por hora é me dedicar integralmente à sua educação e graças a experiência que tive com Daniel sei que é perfeitamente possível e viável. Já não receio mais enroscos judiciais pela decisão, especialmente agora que muitos pais estão se unindo e lutando pela aprovação e reconhecimento do ED no Brasil. (saiba mais sobre isso aqui)
Motivações
Quando iniciei esse processo com Daniel eu escrevi minhas motivações, no entanto hoje ela está mais refinada e abrangente, ainda que permaneça sempre em aberto para novos insights.
Para mim ED é uma forma de deixar de focar no problema (educação precária, escolas retrógadas e maçantes, educação doutrinária contraria aos meus princípios, etc) e passar a focar na solução. Eu como sendo protagonista da educação integral dos filhos que estão a mim confiados. Usar da minha capacidade criativa e criadora para encontrar caminhos que sejam adequados para nós com o objetivo de forjar neles e em mim mesma um espírito curioso, obstinado e sedento por conhecimento. Importante dizer que não sou contra escola e nem acredito que o ED seja um caminho único ou melhor para todas as famílias. Mas é para nós e é o nosso estilo de vida. Não é trazer o velho modelo escolar pra dentro da minha casa, mas justamente encontrar novos caminhos, mais adequados, confiando na minha capacidade e em meus instintos e percepções das necessidades únicas deles.
O ED para mim é antes de mais nada o ato de me auto trabalhar, mudar meus paradigmas e buscar preencher lacunas que foram ficando pelo caminho na minha própria educação. Uma decisão consciente de não terceirizar a educação dos meus filhos, mas ser responsável de forma ativa e protagonista na vida deles.
No ED transformo minha casa em um ambiente propício para o aprendizado em tempo integral, visando os relações que eles terão no mundo a partir do que aprendem aqui. Transformar nosso lar em espaço propício para esse aprendizado.
Educar, para mim, é tentar atrapalhar o mínimo possível a própria construção do aprendizado deles, sendo um dos meus objetivos ensiná-los a encontrarem por eles mesmos os seus próprios interesses e a melhor forma de construir seus conhecimentos de forma autodidata. Não pretendo ser professora dos meus filhos, mas uma facilitadora, uma mediadora entre eles e o conhecimento incentivando a autonomia deles. Dentro desse processo e respeitando a particularidade de cada um pretendo encontrar caminhos para trabalhar o desenvolvimento do intelecto, formar habilidades genuínas, ter equilíbrio emocional, sociabilidade e desenvolver uma autêntica espiritualidade.
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Em postagens futuras pretendo listar alguns objetivos que estruturei para cada um como metas, conteúdos que pretendo trabalhar e recursos que uso e pretendo usar. Fiquem a vontade para me escrever com perguntas e qualquer coisa que precisarem e estiver ao meu alcance.
:)
conteúdos prontos e materiais mastigados